A Estória

ALDEIA
ARARA ENCANTADA​

Somos 22 moradores na aldeia, divididos em 5 família e nosso trabalho é totalmente comunitário. Acordamos bem cedo antes do raiar o dia. Plantamos roçados, desenvolvemos agro-floresta, permacultura, plantamos hortaliças e frutas.  Possuímos 2 açudes com diversos tipos de peixes. Temos nossa produção de farinha para consumo próprio. Trabalhamos com a coleta de látex para produção de calçados totalmente ecológicos, agregando o valor do produto na própria floresta mantendo ela em pé. Nossa ciência é Tibu (Ayahuasca) que conhecemos desde nossos ancestrais. Temos nossa casa de feitio de Tibu e aos sábados dentro de nossa casa de rezo (cupixau) dançamos o Mariri na forca da Ayahusca e cantamos as musicas de nossa tradição.  O rapé faz parte do cotidiano de homens e mulheres da aldeia. Praticamos dentro do instituto, aldeia Arara Encantada toda nossa cultura Shawãdawa , preservando e mantendo o que nos foi passado via oral de geração em geração para nunca cairmos no esquecimento de nossa identidade como Povo Originário.

NOSSO POVO

Muito tempo atrás o nosso povo já vinha habitando esse lugar conhecido como Riozinho cruzeiro do Vale, ou Igarapé Humaitá. Por ser habitado por muitas populações indígenas e ter várias malocas, o povo do Município, os homens brancos, chamavam de Rio Amoácas. Nessa época os índios que viviam neste rio tinham pouco contato com os brancos e também se mudavam, saiam do riozinho cruzeiro do Vale, e passavam uns tempos na margem direita do rio Val Paraíso. Outros pequenos grupos partiam para o rio Bagé e outros ficavam no Igarapé da divisão (sub-afluente do Tejo, através do Bagé). Antigamente não tínhamos muita preocupação porque só trabalhávamos para sobreviver. Nossa única preocupação era a guerra entre os povos. No final da guerra restaram pouquíssimos de nosso povo que foram gerando as novas gerações.

No tempo dos seringais, os parentes Shawãdawas, viviam espalhados pelas cabeceiras dos Igarapés cortando seringa e pagando renda das estradas para os seringalistas. Os patrões judiavam da gente, diziam que o índio era preguiçoso e só viviam ameaçando tomar nossas estradas. Foi então que, nos anos 80, algumas famílias resolveram ir embora para a cidade de Cruzeiro do Sul. Na cidade, eles não tinham onde morar e ficavam na casa de amigos e parentes, sem emprego e sem dinheiro, perambulando pelas ruas e passando necessidade. E outros indígenas ainda continuavam no corte da seringa, espalhados em vários seringais, no meio dos brancos. Um dia, no ano de 1982, o txai Macedo da Funai junto com  nosso parente Cristiano Varela conseguiram uma área de terras para nos  libertar do cativeiro dos patrões e pediram que juntássemos nosso  povo que  estava na cidade e pediu que voltássemos para o lugar de onde viemos.

NOSSA CULTURA

Identificação e língua

A designação Arara foi atribuída ao grupo no contexto do contato com a frente de expansão no Alto Juruá, no século XIX. Os Arara autodenominam-se Shawãdawa, mas são conhecidos também por outras denominações, como “Shawanáwa”, “Xawanáua”, “Xawanáwa”, “Chauã-nau”, “Ararapina”, “Ararawa”, “Araranás”, “Ararauás” e “Tachinauás”.

O contato com os agentes da frente de expansão da borracha deixou marcas na nossa relação com a língua materna. Atualmente são poucos os falantes da língua Arara, pois historicamente fomos ridicularizados e discriminados ao falarmos na língua.  Passamos a não mais transmiti-la a nossos descendentes, gerando uma população infantil educada apenas em português. Contudo, buscamos “resgatar” nossa própria língua através de parcerias para consolidar uma educação bilíngue entre o grupo.

A nossa língua é classificada como pertencente à família linguística Pano, cujos falantes podem ser encontrados no Peru, na Bolívia e no Brasil. Neste último país as sociedades indígenas Pano estão situadas no sul e no oeste do Estado do Acre, de onde se estendem para leste até a parte ocidental de Rondônia e, em direção ao norte, penetra o Estado do Amazonas, entre os rios Juruá e Javari.

A Educação Étnica

Desde o surgimento do  nosso povo  a educação já era étnica.  O chefe de cada grupo tinha autonomia para comandar e ensinar tudo o que ele achava que era bom.  Ensinavam a trabalhar em grupo, a ter união e a plantar muitos alimentos: mandioca, mamão milho, inhame, mudubim (amendoim), taioba, cana, girimum. Esses alimentos já existiam desde a origem. Também tinha carne, peixe e frutas da mata: Bacuri, ingá, patoá, pussavi, cocão, pitiarana, açaí, pracuruba, biorana, oiti, pama, sapota, cacau, pitomba, cajarana, cajá, castanha, jaci, ouricuri, marajá, jarina, burdião e cupu da mata (cupuaçu).

O ensino era repassado através de seus antecedentes (pai, mãe e avós).   Toda manhã tinha aula oral para jovens e adultos, homens e mulheres .

Como arma usávamos flechas e bordunas. Como vestuário usávamos tanga de algodão ou cordão de envira. Como meio de comunicação usávamos buzinha de barro, rabo de tatu, sacupemba para bater, gritos, assopros e assovios.

A primeira vez que  participamos da escola dos brancos foi no período de 1978 até 1981.

Cultural

     Diante de todas as proibições imposta sobre a cultura e a língua, sobreviveram com os mais velhos as historias, os cantos e as danças tradicional.   As guerras, as correrias, também fazem parte de nosso acervo da historia até hoje relembradas  e repassadas para os mais jovens como forma de informação para a manutenção de suas identidades éticas;   Nossos jovens se interessam muito em apreender os mitos e as lendas;

  • Praticamos o mariri;
  • Utilizamos skampoo para melhorar a sorte da caça;
  • Fazemos ritual da  ayahuasca e uso de diversas medicinas da floresta;

Educação

Gostaríamos de ter uma escola com educação diferenciada, que tem como foco a revitalização da cultura, como forma de dar continuidade ao processo de aprendizado de nossa história, com os conhecimentos repassados de geração em geração;

Estamos em processo de resgate de nosso idioma nativo e poucos falam fluentemente a língua materna. Utilizamos os cantos tradicionais para ensinar a língua materna. Criamos três cartilhas escritas em nosso idioma, que usamos como material didático. Nossa preocupação é pela preservação do idioma que vem se perdendo, pois são poucos os anciões que fluentes e cada um que morre é uma biblioteca viva que estamos perdendo.

Como produzimos na Eco-Aldeia

– Somos parte da natureza juntos a outros seres que interagem de forma constante num modo de vida circular.
– Nossa comunidade é ainda pequena. Seis famílias vivem na propriedade de 100 Hectares, juntos somos mais de 35 pessoas.
– É neste sentido de harmonia e criatividade que conduzimos todas as atividades na confecção das folhas de látex para as Ararinhas calçados e acessórios, um produto feito com carinho, vegano e orgânico.
– Sendo guardiões da Mãe Terra, queremos produzir harmoniosamente nossos alimentos e o algodão para a confecção das nossas próprias vestimentas e comercialização na comunidade sem utilizar veneno, protegendo e melhorando o solo, favorecendo a possibilidade de se viver com a floresta e a partir dela, gestora de vida.
– Nossa produção é ecológica. Respeitamos os sistemas e ciclos próprios da natureza. Os processos de produção e manejo da terra devem assegurar a sustentabilidade do entorno, sem recorrer a organismos geneticamente modificados (OGM ou GMOs, siglas em inglês). Futuramente, conforme crescemos gostaríamos de obter o selo de certificação Vegan para os nossos produtos.
– As famílias participantes dos nossos projetos recebem diretamente o lucro da venda dos produtos artesanais de forma comunitária e justa.

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